A Hora do Chá: ‘Ventos de Mudança – Bervely Jenkins’

Oi gente!! Estou de volta nesta colona que eu amo e hoje para falar de uma história tão dolorosa, mas por outro lado inspiradora. Bervely Jenkins estreou em solo brasileiro de forma maravilhosa e com um livro tão relevante, mesmo nos dias de hoje. Ventos de Mudança conta a trajetória de Valinda Lacy, uma professora e mulher negra, que acredita que pode fazer a diferença na vida dos recém- libertos de Nova Orleans. Fiquem com a sinopse que eu já conto um pouco mais da história…

“O primeiro volume da série Mulheres pioneiras acompanha a trajetória de uma professora preta vivendo no Sul dos Estados Unidos durante o período caótico que se segue à Guerra Civil.
A missão de Valinda Lacy na agitada e quente Nova Orleans é ajudar a comunidade de ex-escravizados a sobreviver e florescer através do estudo. Só que em pouco tempo ela descobre que, ali, a liberdade também pode ser sinônimo de perigo.
Quando bandidos supremacistas destroem a escola que ela montou e tentam atacá-la, Valinda corre para salvar sua vida e vai parar nos braços do heroico capitão Drake LeVeq.
Arquiteto nascido em uma família tradicional de Nova Orleans, Drake tem um profundo interesse pessoal na reconstrução da cidade. Criado por mulheres fortes, ele logo é conquistado pela determinação de Valinda. E não consegue parar de admirá-la – nem de desejá-la. E quando o pai de Val exige que ela volte para casa, em outro estado, para se casar com um homem que ela não ama, seu espírito indomável atrairá Drake para uma disputa irresistível.”

A professora Valinda Lacy é nascida e criada em Nova York e, desde que completou a escola, sonha compartilhar seus conhecimentos. Muito inteligente e dedicada, ela esperava frequentar a universidade, mas seu pai não permitiu, por acreditar que conhecimento demais prejudicava as mulheres. A moça acabou obedecendo o pai, mas aquela chama de conseguir fazer a diferença nunca se apagou e ela acaba vendo uma chance quando surge a oportunidade de dar aulas para os recém libertos em Nova Orleans.

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Valinda agarra essa chance com unhas e dentes, mas sabe que sua estadia na cidade é temporária. Seu noivo, Cole, está na Europa numa viagem de trabalho e quando voltar vai buscá-la para que se casem. Amigos de infância, o relacionamento deles é baseado em amizade e respeito, mas não há nenhuma paixão ou amor entre eles. A moça nunca soube como seria um casamento por amor, já que seus pais se detestam e viu sua irmã sendo obrigada a se casar com um homem muito mais velho, apenas porque o pai delas queria que fosse assim. Ela prefere se casar com alguém que foi escolhido por ela, mesmo que nunca descubra o que é ser amada, a deixar essa escolha ser feita pelo pai.

“Tudo o que Val queria era ensinar e, assim, fazer a diferença na vida das pessoas.”

A moça não esperava que sua empreitada em Nova Orleans fosse ser tão complicada. O sul travava uma batalha muito grande para dar um pouco de dignidade para os recém libertos, mas esbarrava em muitas barreiras e a maior delas era os supremacistas brancos que ainda tentavam escravizar o povo negro com contratos de trabalhos semelhantes a escravidão. Valinda chega cheia de esperança de ajudar nessa mudança, mas a cada dia encontra mais dificuldades. A primeira é ter dinheiro para custear o pequeno quarto onde mora ou então vai ser jogada na rua, mas a maior delas é remar contra os supremacistas que acabam ateando fogo em sua pequena sala de aula.

Devastada por ver seu trabalho queimando, Valinda só quer recomeçar, mas acaba sendo atacada e, por muito pouco, não foi violentada. Enquanto tenta fugir, ela é salva pelo capitão Drake LeVeq. O rapaz serviu a guarda da Louisiana durante a Guerra Civil e, agora que a guerra acabou, ele é voluntário na agência de libertos. Os LeVeqs são uma grande família e todos fazem algum tipo de trabalho para integrar os recém libertos. É por isso que Drake acaba relevando as coisas que seu superior faz. Como um homem branco, ele não enxerga as coisas da mesma forma que Drake, então o rapaz continua na agência para poder ajudar seu povo. O encontro com Valinda será o pontapé para uma nova história para Drake.

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“A escravidão é algo horrível… Trouxe tanta dor e sofrimento para as pessoas da nossa cor.”

Eu não vou falar mais da trama em si porque o livro é bem pequeno, tem menos de 300 páginas, então vou acabar contando tudo, não é mesmo? Pensando nisso, vamos falar um pouco dos personagens e sobre o quanto a Beverly Jenkins trouxe representatividade neste romance. O protagonismo negro está em cada página dessa história e eu fiquei tão feliz de ver isso num romance de época. O pano de fundo deste romance mostra a repercussão da Guerra de Secessão, um conflito aramado entre o Norte e o Sul dos Estados Unidos, que tinha como maior divergência a abolição da escravatura. A trama se passa dois anos após o fim da guerra e como o Sul foi derrotado, tiveram mais dificuldade de se reintegrar, além do fato dos antigos proprietários de escravos terem que passar a contratá-los como empregados legais.

Valinda já nasceu numa família livre, então nunca sentiu exatamente o que era sofrer por ser negra. A família teve condições de lhe dar educação e sua avó, uma ex-escrava fugitiva, mas que construiu uma vida como costureira e veste a elite nova iorquina. Ela é uma mulher empoderada, então sempre mostrou para Valinda que uma mulher pode conquistar seu caminho. A moça cresceu, como o pai diria, indomável, querendo fazer a diferença e traçar seu próprio destino. O problema é que a matriarca da família acha que uma mulher precisa ser domada pelo marido, uma coisa que Val não deseja para ela e por isso aceitou se casar com seu melhor amigo, Cole, um rapaz que não lhe aprisionaria.

“Vai perder um amor, rejeitar um amor, encontrar um amor”

Sua chegada em Nova Orleans vai mudar muito seu destino, pois, apesar de acreditar que estaria ali temporariamente, a cada dia Val enxerga que sua história está ligada aquela cidade, então espera que Cole aceite se mudar para lá e abrir seu jornal na cidade. Além de querer ajudar a alfabetizar os recém libertos, Val se sente atraída pelo encanto de Drake. Ele a salvou e a colocou sob a proteção de sua mãe, Juliana. O futuro casamento de Val será de conveniência, então quando passa a observar os casamentos por amor dos LeVeqs, a moça começa a se questionar se sua decisão é a mais acertada, já que anda tendo sentimentos por Drake.

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E o que falar de Drake? Um homem com um senso de justiça enorme, que lutou na guerra e, mesmo após ela, continuou buscando uma vida melhor para o povo negro e que muitas vezes se meteu em enrascadas, por querer dar uma vida digna à eles. Quando conhece Valinda, ele se interessa por ela instantaneamente, por causa de sua personalidade marcante e corajosa, mas as coisas ficam apenas na amizade, já que a moça é noiva. Não que não role uns flertes aqui e acolá, afinal estamos falando de um homem descendente de piratas e que sabe muito bem o que quer. Mas ele é honrado demais para rouba a prometida de outro, então vamos acompanhar um romance sendo construído a cada página e eu amo tanto histórias assim.

“Eu culpo você e seus parentes piratas. Eu estava bem até conhecer sua família e todo esse amor, toda essa paixão de vocês.”

Além do protagonismo negro muito marcante, esse livro é feito de mulheres indomáveis, pioneiras e empoderadas. Começando pela nossa protagonista que teve um bom exemplo de sua avó, mas ao chegar em Nova Orleans pode conviver com outras mulheres excepcionais. Juliana, a mãe de Drake, é uma mulher de negócios, que criou os filhos sozinha, depois que o amor de sua vida morreu. Criou homens honrados e leais que respeitam a mãe acima de todos. Os LeVeqs são uma família grande, amorosa e muito importante na cidade. Eles usam essa posição privilegiada para ajudar os mais necessitados, então não é surpresa Valinda ter se apegado tanto à eles. Também é interessante o fato da autora ter abordado a questão dos creoles.

“Val lembrou que, nas conversas que tinha com seus alunos no antigo celeiro, eles diziam que queriam três coisas da Liberdade: que suas famílias deixassem de ser separadas à força, não trabalhar mais embaixo do chicote e terem acesso à educação para eles e seus filhos.”

A edição de Ventos de Mudança é maravilhosa, uma capa linda, que me deu uma sensação tão grande de liberdade, um tema tão abordado nesse livro. A capa original é muito bonita também porque traz o casal protagonista destacando que essa seria uma história de representatividade. Ele é o primeiro livro da série Mulheres Pioneiras e traz pela primeira vez a autora Beverly Jenkins em solo brasileiro. A Editora Arqueiro tem o compromisso de publicar pelo menos uma autora nova no gênero romance de época por ano e tem acertado muito em suas escolhas. A diagramação é simples e dentro do padrão da editora. E quem comprou na pré-venda recebeu um lindo Pin da Coleção Arqueiro e ainda recebemos um spoilerzinho da capa do próximo livro.

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“Obrigada por me amar. Você provou que o amor existe e isso mudou minha vida.”

Ventos de Mudança foi uma grata surpresa por tantos motivos. Beverly Jenkins tem uma escrita fluida e apesar do tema tão forte e pesado, ela soube dosar e nos presentear com essa história tão bonita. Achei o final apressado demais, ainda mais por ser um livro tão curto, mas pra mim não diminuiu em nada o poder dessa história. O ponto alto é o tamanho do poder feminino, sem falar de ver uma história escrita e protagonizada por uma mulher negra. Eu leio muitos romances de época e essa é primeira vez que vejo isso, então já fica a dica para quem quer dar um tempo dos livros ambientados em Londres, nos bailes e saraus. Enfim, uma história linda, muito bem ambientada e que abordou um tema tão doloroso e que ainda marca a nossa sociedade em pleno século XXI. Deixo minhas 5 Angélicas já me preparando para o próximo livro.

CLASSIFICAÇÃO 5 ANGÉLICAS

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